quinta-feira, 15 de abril de 2010




FAZENDA CAMPOS NOVOS


Dez anos após a fundação da cidade de Cabo Frio (1615), seu enorme território já havia sido quase que totalmente distribuído pelo Capitão-Mor Estevão Gomes, através de doação de sesmarias.
Entre os maiores agraciados destacou-se a Companhia de Jesus, que recebeu as maiores porções: São Pedro – em nome dos índios goitacases aldeiados, a Ponta de Búzios e as planícies do Rio Una. As terras improdutivas da restinga ficaram reservadas para a expansão dos moradores da cidade.
Porém, a posse do Rio Una pelos jesuítas não foi pacífica: porque a doação obrigava esses religiosos a escolherem entre as terras da futura Fazenda Campos Novos e as de Búzios. A princípio, os jesuítas fingiram desconhecer a obrigação: os índios de São Pedro faziam roças e pescavam em Búzios, enquanto usavam as terras do Rio Una para conseguirem o tucum necessário às suas flechas.
Alguns comerciantes do Rio de Janeiro acusaram os jesuítas de usarem os índios de São Pedro na derrubada das florestas do Rio Una, com o objetivo de abrirem pastos para gado e cortarem pau-brasil para comerciar a madeira com piratas franceses no litoral da Baía Formosa.
Quando os frades de São Bento, que também receberam grandes áreas de terra em Cabo Frio, levantam um curral de gado próximo ao Rio Una, os jesuítas responderam de maneira violenta. Arma bandidos que incendiaram o curral e a sede da fazenda beneditina situada junto à área em discussão.
Depois de intermináveis processos judiciais e até mesmo uma ameaça de excomungar os outros do crime, os jesuítas desistiram da propriedade de Búzios e escolheram as terras do Rio Una, baseados no senso de negócios que dirigia as atividades da Companhia de Jesus no Brasil.
Neste tempo, final do século XVII, a fazenda dos jesuítas que criava gado nos Campos dos Goitacazes, já lucrava bastante. Imensas boiadas eram transportadas pelas restingas fluminenses até a cidade do Rio de Janeiro, e destinavam-se a abastecer de carne o mercado carioca.
A propriedade dos jesuítas no rio Una localizava-se no meio do caminho, entre os Campos dos Goitacazes e o Rio de Janeiro. Nela, as boiadas cansadas pela distância percorrida e a percorrer, poderiam descansar e engordar numa “invernada”, para depois de refeitas, serem tocadas até o centro consumidor.
A abertura da Fazenda Campos Novos começa pela queimada das florestas, que dão lugar a campos de pasto para gado. O lugar é batizado de “Campos Novos” para diferencia-lo de propriedade religiosa dos Campos dos Goitacases. O negócio mostrou-se bastante lucrativo desde o princípio: eram cerca de 1.500 cabeças de gado ali criadas e guardadas por dois escravos africanos.
Ainda no final do século XVII (c.1690), os jesuítas investiram alto na construção de um estabelecimento agro-pecuário modelo: levantam a sede da fazenda, a Igreja de Santo Inácio e o cemitério. E, mais, retificaram e canalizaram o Rio Una, que passou a ser navegável por lanchas até a barra do mar, por onde foram exportadas madeiras-de-lei e a grande produção de uma agricultura diversificada, com destaque à mandioca, para a cidade do Rio de Janeiro.
Um relatório de 1741, informa que a fazenda do Rio Una “ainda não tinha chegado a última perfeição, mas nos seus vastíssimos campos poderiam pastar mais de 20.000 cabeças de gado”. Mas em 1760, a Companhia de Jesus foi acusada de atividades revolucionárias na América. Os religiosos de São Pedro da Aldeia e da Fazenda Campos Novos foram presos e embarcados para Lisboa. O processo de acusação relata roubos, falta de religiosidade e até um atentado sexual. A fazenda foi confiscada e depois comprada por Manuel Pereira Gonçalves, cujos descendentes administraram o latifúndio de três léguas de testada por quatro léguas de largura, até a independência do Brasil.
A memória do povo guarda a riqueza em que os religiosos viviam, comparada à indigência dos escravos africanos que lhes serviam e as pobres populações vizinhas. Uma tradição recolhida no distrito de Tamoios, relata que, momentos antes dos Jesuítas serem presos, enterraram uma imagem de Santo Inácio, de ouro, para escondê-la de seus captores.
Passando ao domínio privado iniciou-se o conflito pela posse das terras da Fazenda, pois os habitantes sempre contestaram o domínio dos novos donos, que a partir de então surgiram no local.
Essa situação perdurou ao longo dos seus mais de três séculos de existência, havendo depoimentos de que jamais seus sucessivos proprietários chegaram a dominar totalmente suas extensas fronteiras que mediam, originalmente quinze léguas de litoral por 20 léguas de sertão.
Nessa época havia muitos arrendatários espalhados pela fazenda que pagavam rendas mensalmente ao proprietário. Com isso, ao passar dos anos, e já se aproximando do séc. XX, as novas técnicas agrícolas vieram a substituir a mão de obra humana sobretudo com o uso de veículos e máquinas automotivas. A partir daí os arrendatários passaram a ser hostilizados pelos donos da fazenda que desejavam vê-los fora de suas terras, e ante a resistência destes, estabeleceu-se o conflito que se estendeu durante anos, ocasionando a morte de muitos trabalhadores e a destruição criminosa de suas lavouras.
Sensibilizado com tantos acontecimentos na região, o Governo Federal, em 1983 expropriou a maior parte das terras da fazenda, deixando apenas a sua histórica sede e pequena área a seu redor.
O conflito, porém não parou por aí. Os colonos assentados pelo INCRA encontravam sempre dificuldade de se estabelecerem em suas glebas porque a sede da fazenda continuava simbolizando a dominação latifundiária que sempre existiu na região, mantendo viva a chama do conflito social.
Por derradeiro, o Governo Municipal, para acabar de vez com essa situação de perpétua beligerância, desapropriou em 03/06/93 o prédio (sede) e o que restava da Fazenda, iniciando uma nova era para os trabalhadores rurais, instalando no local a Secretaria Municipal de Agricultura e diversos outros órgãos voltados para o desenvolvimento da agropecuária.
Atualmente, somente a Secretaria Municipal de Agricultura ocupa o local

2 comentários:

  1. Trabalhei no Museu de Imagens do Inconsciente dde 1974 a 2008 ,Haja conservação sem meios, mas mmo assim fazíamos o meramente possivel com boa -vontade.

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  2. Trabalhei no Museu de Imagens do Inconsciente dde 1974 a 2008 ,Haja conservação sem meios, mas mmo assim fazíamos o meramente possivel com boa -vontade.

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